segunda-feira, 16 de maio de 2011

esta outra mulher de quem só eu poderia ser a mãe

este homem que não me conhece e me julga
(a cada dia mais me julga)
(a cada dia acha que sabe mais de mim)
(a cada dia acha que manda mais em mim)
(a cada dia se sente mais responsável por mim)
à beira de uma morte que desconhece
(e que morte não se desconhece?)

esta mulher que só eu poderia ser
(a cada dia mais dela sou mãe)
(a cada dia mais ela sou)

este homem que ainda não é
(a cada dia pude menos ser mãe)
(a cada dia julgo mais necessário que mãe fosse)
(a cada dia sei mais distante compreender)
(e que vida se conhece?)

esta mulher que nunca foi por mim
(a cada dia mais eu culpo)
(a cada dia menos eu amo)
(a cada dia
a cada dia)

esta humanidade impregnada nas coisas que andam
(a cada dia a gente sabe mais e diz menos)
(a cada dia a gente diz mais e sabe menos)
(a cada dia a gente é mais perto e mais longe de ser)
quanto mais perto, mais morto

este pai que a gente é do homem
(a cada dia mais equivocado)
(a cada dia esclerosado)
escorado numa bengala que me compreenda

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