quarta-feira, 31 de março de 2010

escrevendo menos

menos em volume,
meu bem

justificável pelas disciplinas obrigatórias
pela intensidade do pulso
pelas certezas correntes a ir e vir

pela cor violácea do crepúsculo
pela trilha sonora do movimento três
pelas intempéries do fim de março
(há quem diga ainda que minha escrita é misteriosa, cifrada)
imagina...

menos em volume,
mas uma coisa estranha aconteceu.
recebi a notícia da morte de uma pessoa,
e esbarrei com ela no mês seguinte
era ela mesma.
percebi que alguém se enganou antes de me assustar.

quinta-feira, 4 de março de 2010



fico mais jovem com os cabelos escuros
com as unhas da cor da moda
usando vestidinhos cor de rosa.

fico mais jovem de mãos dadas
com a voz mais aguda
ansiosa pra ele chegar.

fico mais jovem no fim de semana
e durante a semana toda
se acordo no ombro dele.

fico mais jovem e a jovialidade me basta
mais que um poema-katana
mais que qualquer teogonia sórdida
mais que saber que a arte é
sem função pré-determinada
a jovialidade me basta e eu comungo disso em vez
de escrever um poema.

voltei a estudar violão.
larguei os livros de filosofia.
estou de férias até 29 de março.
faço aniversário segunda-feira.
vou fazer uma festinha no domingo.
escrever atrai mulheres...
de fato.
mulheres, queridas, não se atraiam por mim.
não enquanto eu estiver no colo dele.
amigos, queridos, tragam um fuminho aqui pra casa.
vou fazer um rango vegetariano.
vou fazer uma caipirinha.
aqui na minha casa em que habitam pessoas de verdade.
com corações de verdade.
que escrevem e pintam nas paredes.
que fumam seus cigarros (e os meus).
que riem quando cai um pedaço do reboco do teto (é a vida).
todo o trauma da vida não é maior que não ter amado, não ter sido amado.
e, aqui na minha casa, de verdade, ama-se.