terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

baixada

a gente pegava kombi na central para ir lá ver
era tanta criança dentro da gente que soltava até pipa
jogava até bola
tomava até banho de mangueira

se eu quebrasse os versos não
seria tanta verdade quanto os olhos do meu filho
e os meus olhos de criança depois na sua
cama porque foi lá ver comigo

qualquer coisa que se viva agora não
seria nada do que vivi naquele dia enorme
eu faria uma canção pra você
eu faria um bolo de chocolate
mas eu faço esse sorriso que vai no céu e volta aqui
onde você sabe ler

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

no verso do cupom fiscal

podemos nos olhar nos olhos

pedir um abuso, coisa de companheiro

falar mais baixo, deixar que nos leve a brisa da voz

acordar amanhã de manhã e ver como a luz do sol nos acaricia e renova

estar preparados para o gande amor que nos ressuscita

deixar o verso sair assim, como aconteceu

observar o que nos cerca sem conclusão, só observar

viver a dimensão de cada dia

viver as dimensões de si

confesso

como é bom sentar no colo dele
e ser acolhida assim, pequenininha
ter saciadas as vontades
eu acreditava e queria, eu já o conhecia, mas só agora sentei no colo dele
fui tomada pela mão de deus e ele disse
como é bom dizer de amor ao amor
ele sabe e eu fui capaz de entender agora e ele viu meu amor
como é bom se sentir pequenininha a mulher que sabe trovejar.
como é bom.

bem-aventurado o deus que me fez
e o homem que me pôs no colo assim, pequenininha.
confesso, ainda, que sempre acreditei num deus que fosse desse tamanho.

sorrir e cantar como bahia

.......................................(obrigada, novos baianos, por inspirare)


houve tempo que era cirurgia
houve ainda o que era o chegar do tempo
quem sou se edita hoje em dia pelo que se diz que seja
e nunca é
muda o endereço, vê, e busca a mesma pessoa
tem-se a impressão de que a realidade é fake profile
(R$120,00/ mês - anúncio na primeira página online)
quem ele vai encontrar nele mesmo?
odeia-se a carta, a palavra, o e-mail, a traição, a fotografia
acabou tocare, falare, olhare, pensare, chorare

"abre a porta e a janela
e vem ver o sol nascer"

e o sol nasce, vem ver.
depois que se desliga duas semanas o tempo do que se é
passa-se a estar.
e muda-se o perfil sem dar ctrl+v

a gente ouve um som
a gente transpira
a gente pula no quarto
ácido
a gente grita e se beija
a gente corta o dedo a barba a perna da calça
a gente faz bermuda
a gente faz as pazes
(todo mundo bole)
a gente esquece o que ontem se disse de ser
e vem estar




terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

não lembro
estavam lá as imagens
eu via do parapeito com uma enorme vontade de ir embora
faziam-se versos muito bons
não lembro
transformou-se a vontade de ir embora em pedido pra ficar
fiquei
fiquei e perdi os versos
eles eram leituras tão perecíveis
eram muito bons versos
não lembro
fiquei e não lembro os versos antigos
muito bons


quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

escuta
a verdade é o que digo aqui
eu queria dizer
escuta
olha pra mim
eu queria dizer.

a gente estava lá em cima, lembra?
quando olhei nos seus olhos, achei que vi
e os meus estavam
eu queria dizer que os meus estavam
e que não sei mais onde estarão
mas estavam.

a verdade é que o tempo podia voltar, parar, correr
mas o tempo nem existe para tal
fico aqui pensando enquanto o tempo passa
mas ele custa a passar agora
meu pensamento custa a passar agora.

a verdade é que tanta coisa podia ter sido diferente
menos o que foi, a verdade.
e o tempo agora custa mais a passar.
e dói.
ele tentou se atirar da janela com grades. ele tentou tomar uma cartela de comprimidos vencidos. ele tentou cortar os pulsos com uma faca sem serra. ele se jogou na frente de um carro poucos segundos antes do sinal fechar. ele foi socorrido pelos bombeiros no mar sereno de copacabana. ele arrebentou o lustre da sala com a corda que amarrou no pescoço. ele cheirou 5g de cocaína fraquinha, muito misturada. ele pediu a jesus cristo que lhe tirasse a vida.

até que ele conheceu alguém que lhe abriu as grades. alguém que era homeopatia. alguém que lhe deu a mão. alguém que o levou a uma bela cachoeira. alguém que lhe preparou um jantar à luz de velas. era vegetariana. era budista.

ele não queria morrer mais.

ele foi dirigindo até o alto da montanha para gritar lá de cima que não queria morrer mais. olhava para a floresta e, no meio-fio, o espiavam as garrafas plásticas abandonadas. percebeu-as. notou que as garrafinhas azuis formavam um corredor iluminado para fora da pista. resolveu seguir. por entre as árvores, os pedaços de plástico reluziam. resolveu descer do carro e foi.

ela ficou cerca de dois meses esperando que ele voltasse, mas não.

ela tentou se atirar da janela com grades. ela tentou tomar uma cartela de comprimidos vencidos. ela tentou cortar os pulsos com uma faca sem serra. ela se jogou na frente de um carro poucos segundos antes do sinal fechar. ela foi socorrida pelos maconheiros na sete quedas. ela arrebentou o galho do flamboyant com a corda que amarrou no pescoço. ela pediu a buda que lhe tirasse a vida.

ela não queria morrer de fato.
mas foi uma história de amor.
é porque cada amor é uma experiência totalmente nova pra ti
e nada se acumula.
e vc não tem como aprender do passado.
porque é tudo novo e diferente.
e quando é igual vc não quer mais