segunda-feira, 30 de dezembro de 2013
gosta nadinha dessas rapariga
(é cada uma história triste home
lá pra riba não tinha dessas sabença)
se deu deu
tinha coisa de força nem de tomado
famia que ficava trepado olho
escorregou tá moiado
agora ruma embora pruque adescobriu
coroano já era cabeça de mulato
pode não home
mãe mesmo tava de arrelia
nada de ponhá pra fora
mas quando vira o olho da lua tá virado
e nenê que coroou não morre mais
agora olha o inferno que danosse
esperta caboca veia saiu que saiu
sexta-feira, 22 de novembro de 2013
amarela
a parte da flor que fica
a parte do ovo que mata
a parte que abate o cego
à parte o amarelo nós temos
figo amora goiaba melancia
o que há de mim nessa parte
dessa casa que me abriga
dessa cor dessa apatia
pinga-fogo consciente
queima mão filosofia
a buscar quem oriente
coincidente geografia
terça-feira, 18 de dezembro de 2012
na maca dos réus estão
ignorantes e mortos de felicidade
recebendo a bandeja fria
no tempo vago cabem a tv onde assistem
e os pequenos conflitos onde imitam
às vezes toca o telefone
não, não é o filho
é sempre uma conta em atraso, um pedido de doação pro natal
uma pontada no peito a enfermeira
examina toca
outra pontada o médico
estetoscópio metal que olha nos olhos
acalenta fiel o peito
denuncia o compasso simples
- mas a dor
simples
- ai, doutor
simples
- mas
talvez um calmante (enfia um mata leão nessa velha)
- Jesus a luz
a comida do cachorro
cadê meu filho
Jesus
meu pai
seria tema da revolução
que duraria uma parte desta geração
a outra parte, ressentida,
diria versos sobre a fome e a morte
e morreria de fome
empunhando flores vermelhas
ou armas brancas
o funeral marcharia.
à miúde, repartiriam a comida os soldados
lá em cima os generais,
percebendo a afeição dos pequenos,
plantariam bombas em seus bolsos
esconderiam as fotos das crianças
levariam os corpos das viúvas de cor
surgiria um novo tempo não televisionável
depois de alvejadas nossas peles de macacos
e todos usariam coroas azuis
domingo, 18 de novembro de 2012
prolactina
canalha
essa ordinária sua amiga
sua víbora nossa lembrança morta
aqueles porres e outros
que estão sendo agora não sei se mais
essa vergonha desmamada da vida
o perigo de sentir em verdade não verso
escrever esse pudor montado
esse planejamento hoje não,
está dito:
a raridade de um pai na vida do filho
eu tive que encontrar
e é difícil de ter porque o pai não está ali
na verdade é a mãe que é mãe independentemente
o pai não
está ali mas a mãe
e mãe é a mão que
intelectual
entende tudo menos
entende os outros
os outros menos entendem
entende a mãe o pai
perdoados no túmulo após
convencido de que eu sempre
compreendido compreendendo
sagacidade total, esclarecimento do caralho
enquanto em vida tudo é inimigo tudo
combate a ferro tudo
faz de conta que você nunca
e é aprovado o projeto
defende outro
você ignorante permanece
para ele blue label
quinta-feira, 11 de outubro de 2012
cabelo vremeio cabelo roxo
cabelo duro cabelo na mão
cabelo sujo cabelo grosso
cabelo embolado cabelo ruim
cabelo no chão na comida
cabelo bom cabelo de anjo
trança em três e vai
moldando a cascata
vira pro lado e prende
sábado, 26 de maio de 2012
poética
pensamento discorda de si
é algo mais leve que sentido
escrever tem uma fórmula quando se quer chegar em determinado ponto
pensamento não
há quem escreva como pensa esse não quer ser lido
não se importa
o prazer é todo dele.
quinta-feira, 24 de maio de 2012
ninguém aguenta
– Paletó em série não cai como cerzideira velha.
feito botãozinho
dizendo não e sim
não vê hora da sexta lamentando já domingo
sem meias palavras como precisaram os meninos
sem também alguma audácia que fizesse dizer algo
não diz
desabotoa deita do lado dela
diz que reza ninguém sabe mais que santo
deus fica só quieto no canto espiando
domingo, 18 de março de 2012
todos nós vivemos nossas revoluções
mas vivemos nossas revoluções
no fim das contas a revolução do trivial não acontece
voltamos pra casa no caos do trânsito
com os bolsos vazios de escândalo e depravação
e somos os primeiros a sentir orgulho de nossa condição careta
de nossa casa limpinha
de nossos olhos azuis
domingo, 15 de janeiro de 2012
poética
cansaço de procurar o que existe só por dentro das coisas que se verá jamais.
cansaço desses argumentos re-citados de bibliografias mesmas
mais que fucôs e nitches e sartres possam ter lido eu não sei
outra via não há só o cansaço.
terça-feira, 13 de dezembro de 2011
tava frio
tava frio subia de jeito não
ma memo meio maomeno
molengô i moiô
barulho desse
não
vira e mexe a ladainha
entra como um ouvido dentro
só assim sim
domingo, 11 de dezembro de 2011
é apenas uma linha que vai aparecer na testa
quer se irrite ou sorria
para que possa gargalhar
até o cu fazer bico e não franzir
a testa:
botox
sexta-feira, 9 de dezembro de 2011
mulher de anca boa
passa mulher de anca boa
a gente não pode pegar
quinta-feira, 8 de dezembro de 2011
domingo, 3 de julho de 2011
Relato de parto
segunda-feira, 16 de maio de 2011
sobram vagas no pré-natal
a filha da puta da beleza
um vai se foder à beleza
a estética assusta
mais que um coração dilacerado
mais que um prolapso da válvula mitral
a beleza
a fila do setor de cirurgia plástica não admite
atrasos porque a fila é grande e quanta gente aguarda
sobram vagas no pré-natal
sobram vagas na cardiologia mas na cirurgia
plástica não cardíaca
também na angiologia
sobram vagas no pré-natal
vão se foder os bebês
as enfermeiras elogiam o cartão de pré-natal onde constam em dia os exames as consultas os carimbos assim como os críticos elogiam a métrica as rimas a volúpia dos versos o selo da editora
venham ver que beleza:
os seios afilados os narizes siliconados esperando em série a revisão do doutor
sobram vagas no pré-natal e depois do parto lipoescultura
e que diferença faz se eu não sei dizer se sou eu quem tem os carimbos da consulta do pré-natal e não vou entrar na fila da lipoescultura que diferença faz a minha pontuação ou as medidas do verso cintura busto
esta outra mulher de quem só eu poderia ser a mãe
(a cada dia mais me julga)
(a cada dia acha que sabe mais de mim)
(a cada dia acha que manda mais em mim)
(a cada dia se sente mais responsável por mim)
à beira de uma morte que desconhece
(e que morte não se desconhece?)
esta mulher que só eu poderia ser
(a cada dia mais dela sou mãe)
(a cada dia mais ela sou)
este homem que ainda não é
(a cada dia pude menos ser mãe)
(a cada dia julgo mais necessário que mãe fosse)
(a cada dia sei mais distante compreender)
(e que vida se conhece?)
esta mulher que nunca foi por mim
(a cada dia mais eu culpo)
(a cada dia menos eu amo)
(a cada dia
a cada dia)
esta humanidade impregnada nas coisas que andam
(a cada dia a gente sabe mais e diz menos)
(a cada dia a gente diz mais e sabe menos)
(a cada dia a gente é mais perto e mais longe de ser)
quanto mais perto, mais morto
este pai que a gente é do homem
(a cada dia mais equivocado)
(a cada dia esclerosado)
escorado numa bengala que me compreenda
neste momento de não saber o momento
este sangue que ainda não é
este sono que não vai voltar porque não era
este parto que não sei quando
este deixar de ser duas e ser uma outra e mais outra
esta mãe só que vai morrer em mim para tê-la aqui e
[que ainda será só com ele lá
este coração que vai parar em mim e será vida a mais
PL122/2006
“Art. 8º-B Proibir a livre expressão e manifestação de afetividade do cidadão homossexual, bissexual ou transgênero, sendo estas expressões e manifestações permitidas aos demais cidadãos ou cidadãs:
Pena: reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.”
..............................
§ 5º O disposto neste artigo envolve a prática de qualquer tipo de ação violenta, constrangedora, intimidatória ou vexatória, de ordem moral, ética, filosófica ou psicológica.”(NR)
quarta-feira, 4 de maio de 2011
constipação desse tempero insistente
à temperatura ainda nua do dia de hoje
vem como fosse carta tua letra
parece que se faz caligrafia quando
e que que a gente faz se isso pulsa tão fácil
e que que a gente faz se isso pulsa tão
e que que a gente faz
e que
riso é coisa tão séria, menino
que te cabe sem que te notem em mim
quinta-feira, 21 de abril de 2011
Por que Fluminense?
segunda-feira, 11 de abril de 2011
colo fechadinho ainda mãe
talvez gases, prisão de ventre, mau humor, ciatalgia, lombalgia
ter ido ao médico custaria o transporte e muitas horas
agora já sei que não foi nada
esperar esperar esperar
uma sucessão de dias e sintomas
talvez nem tanto os sintomas, mas
talvez um sentimento profundo de que é agora
enquanto gases, prisão de ventre, mau humor, ciatalgia, lombalgia,
enxaqueca, sudorese, cáries, edemas, rinite
enquanto pudessem estar disfarçados no cotidiano seria ótimo
mas o cotidiano é de esperar esperar esperar:
não há disfarce que não permita perceber
não há justificativa para este texto senão
a tentativa de tornar cotidiana a espera
já que a escrita um dia foi
ainda não é a hora de um poema
colo fechadinho ainda mãe
sábado, 26 de março de 2011
quarta-feira, 23 de março de 2011
pra essa gente aparecer na fotografia
ângulo certo
na sinuca na festa na praia com os gatos
em verdade em verdade o que
existem são as sombras do que alguém teria sido
ao travesseiro umas lágrimas de vazio
(aquela de braços dados com o Drummond é muito boa)
jamais se perguntar sobre o poeta estar de costas pro mar
domingo, 23 de janeiro de 2011
dinheiro pela janela
esse pai não me dá de morrer
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
da série das razões
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
Composizione per tre voci
terça-feira, 23 de novembro de 2010
quer saber
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
lista de compras
sexta-feira, 16 de julho de 2010
da incomunicabilidade I
lançamento
Caros "leitores" (por mais irônico que seja tratá-los assim neste blog),
Tenho o prazer de convidá-los para o o lançamento do meu segundo livro de poemas, você não lê, que sairá pela editora oficina raquel junto com as medicinas, de sebastião edson macedo.
A noite de autógrafos ocorrerá no dia 20 de julho, terça-feira, no Bar Luis, a partir das 19h.
Bar Luis:
Rua da Carioca, 39 • Centro • Rio de Janeiro.
Junto com o livro, sairá o cd lida, com leituras de alguns poemas do livro por Ronaldo Lima Lins, Cinda Gonda, Sebastião Edson Macedo, João Pedro Fagerlande, Manuela Berardo, PH Wolf, Jimmy Charles Mendes, Rafael Lemos e Rayssa Galvão. Participaram também, no violão: Gabriel Otoni e Rodrigo Pastore, baixo: Rodrigo Pastore, flautas: Arthur Souza e Sebastião Edson Macedo, sanfona: Fred Michael Tkotz. o Rodrigo e o Gabriel foram os produtores.
Confira algumas faixas no www.myspace.com/pastorejulia.