terça-feira, 18 de dezembro de 2012

       "Em toda parte há doidos malucos com tantas certezas" A. C.

na maca dos réus estão
ignorantes e mortos de felicidade
recebendo a bandeja fria

no tempo vago cabem a tv onde assistem
e os pequenos conflitos onde imitam

às vezes toca o telefone
não, não é o filho
é sempre uma conta em atraso, um pedido de doação pro natal

uma pontada no peito a enfermeira
examina toca
outra pontada o médico
estetoscópio metal que olha nos olhos
acalenta fiel o peito
denuncia o compasso simples
- mas a dor
simples
- ai, doutor
simples
- mas
talvez um calmante (enfia um mata leão nessa velha)

- Jesus a luz
a comida do cachorro
cadê meu filho
Jesus
meu pai
qualquer trocadilho panfletário
seria tema da revolução
que duraria uma parte desta geração

a outra parte, ressentida,
diria versos sobre a fome e a morte
e morreria de fome

empunhando flores vermelhas
ou armas brancas
o funeral marcharia.
à miúde, repartiriam a comida os soldados

lá em cima os generais,
percebendo a afeição dos pequenos,
plantariam bombas em seus bolsos
esconderiam as fotos das crianças
levariam os corpos das viúvas de cor

surgiria um novo tempo não televisionável
depois de alvejadas nossas peles de macacos
e todos usariam coroas azuis